Se você perguntar à maioria dos fãs de quadrinhos qual a conexão entre Homem-Aranha e Watchmen, muitos dirão que não há nenhuma. Mas essa visão pode ser revista: a trajetória de ambos está profundamente ligada à evolução do conceito de heroísmo ao longo de três décadas.
Na virada dos anos 1970 para os 1980, o Homem-Aranha de John Romita Sr. trouxe uma nova abordagem ao heroísmo na Marvel Comics. Ele abandonou a ingenuidade da Era de Ouro e as explicações mirabolantes da Era de Prata, optando pela simplicidade e pelo altruísmo como um protetor incorruptível. Enquanto enfrentava inimigos tragicamente transformados, como ele, Peter Parker demonstrava que a resiliência e o caráter inabalável eram as verdadeiras marcas de um herói.
Alan Moore, por sua vez, com Watchmen, publicado no mesmo período, apresentou uma visão cínica e sombria do heroísmo. Ele questionou se os superpoderes realmente levariam alguém a salvar gatinhos ou se poderiam corromper, transformando os heróis em figuras narcisistas e egoístas. Ao desconstruir os ideais altruístas de heróis como os de Romita Sr., Moore lançou luz sobre um lado mais complexo e humano dos personagens superpoderosos.
Nos anos 2000, as adaptações para o cinema reforçaram essas visões contrastantes. Enquanto os filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi mantiveram a integridade moral de Peter Parker, os filmes de Watchmen de Zack Snyder exploraram um grupo de heróis dispostos a cometer atos extremos em nome de um suposto bem maior, desafiando novamente as noções tradicionais de heroísmo.
Assim, apesar de parecerem opostos, Homem-Aranha e Watchmen compartilham um diálogo contínuo sobre o que realmente define um herói e como os conceitos de altruísmo e corrupção se entrelaçam na mitologia dos quadrinhos e do cinema.